sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

MEMÓRIA AS VITIMAS DO HOLOCAUSTO

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto


Em 2005, a Assembleia Geral da ONU instituiu o dia 27 de janeiro como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Esta data marca o dia em que as tropas soviéticas libertaram, em 1945, o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. A decisão da ONU “condena sem reservas todas as manifestações de intolerância religiosa, de incentivo ao ódio, de perseguição ou de violência contra pessoas e comunidades por causas étnicas ou religiosas e rejeita qualquer tentativa de negação do Holocausto como acontecimento histórico, quer seja total ou parcial”.

Alguns historiadores se referem a Auschwitz-Biekenau como Fábrica da Morte. Embora seja impossível definir o número exato de pessoas assassinadas ali, calcula-se em cerca de 1 milhão as que foram mandadas para as câmaras de gás, a maioria judeus. Em 1944, auge da macabra linha de produção, cerca de 6 mil pessoas eram liquidadas diariamente. Ao libertar o campo, o Exército Vermelho encontrou 8 mil sobreviventes em estado deplorável, quase mortos.

O Reich de Mil Anos imaginado pela cúpula nazista previa a eliminação de alguns grupos, como judeus, ciganos, homossexuais, eslavos e certos doentes (cerca de 100 mil alemães, classificados como “doentes mentais incuráveis”, foram mortos num hospital psiquiátrico), além do banimento/liquidação física da esquerda revolucionária. Unidades especiais do exército alemão, os Einzatzgruppen, foram formadas com essa finalidade. Mesmo quando a Wehrmacht começou a sofrer as primeiras derrotas na URSS, com tremendas perdas humanas e materiais, os nazistas não só não abandonaram como intensificaram a política de genocídio contra os grupos que consideravam “inferiores”. Militares foram deslocados de frentes críticas de batalha para continuar a matança.

O Holocausto foi um evento tão traumático, tão avassalador, que acabou colocando em segundo plano acontecimentos fundamentais para se ter uma visão mais abrangente do nazismo. Eis alguns, condenados, quase sempre, ao rodapé da História:

1. Diferentemente da estratégia militar colocada em ação contra países não eslavos, a invasão da Polônia, por exemplo, inaugurando a carnificina na Europa, incluiu a liquidação sistemática de lideranças civis e intelectuais. Havia planos, jamais executados, de castração em massa das populações do Leste Europeu. Os eslavos eram considerados “impuros” e, por isso, não teriam lugar num mundo arianizado.

2. As chamadas “democracias” da Europa Ocidental foram coniventes na ascensão do nazismo e, mesmo sabendo o que acontecia com as populações judaicas pelo menos desde 1942, nada fizeram para deter o massacre. A política de “apaziguamento” dos anos 1930, a passividade frente ao rearmamento alemão e o cinismo da “neutralidade” durante a Guerra Civil na Espanha deram vitalidade ao expansionismo nazista e abriram a porteira para a barbárie. Os “democratas” apostaram em Hitler como barreira de contenção contra o inimigo comum: o bolchevismo. Para ganhar a guerra ideológica, alimentaram um velho conhecido: o imperialismo alemão.

3. O flerte com o nazismo deu bons frutos depois do fim das hostilidades. A desnazificação da Alemanha foi feita de forma muito seletiva e, em linguagem de hoje, midiática. Alguns figurões foram julgados e condenados a longas penas de prisão ou à morte. No entanto, a grande maioria de funcionários do regime nazista e criminosos provados ficou livre. Os Estados Unidos, que antes da guerra haviam criado fortes obstáculos à entrada dos judeus que fugiam do nazismo, providenciaram, a toque de caixa, leis que facilitaram a vinda de cientistas que tinham trabalhado em projetos militares nazistas. Os casos mais notórios foram os de Werner Von Braun e Ernest Rudolf, incorporados ao programa espacial norte-americano depois de uma providencial amnésia. Documento recentemente revelado pelo New York Times mostrou que a CIA criou um “paraíso seguro" nos Estados Unidos para muitos nazistas, que, não raro, passaram a trabalhar em serviços de espionagem.

Passados 66 anos da libertação de Auschwitz-Birkenau, assistimos com apreensão o retorno de algumas bandeiras caras ao nazismo (embora ele, enquanto movimento de massas marcado pelas tensões sócio-políticas das três primeiras décadas do século passado, esteja morto). A extrema-direita, hoje, continua antissemita e homofóbica, mas acrescentou a islamofobia e a xenofobia à sua plataforma de ódio. Seduz desempregados e setores da classe média que jamais abandonaram ranços de preconceito e supremacia.

Cabe aos setores democráticos resistir. Não basta apenas a memória. É importante articular frentes de luta contra todas as tentativas de legitimar o racismo, o antissemitismo e outras formas de preconceito. Construir um mundo mais justo e fraterno será a melhor forma de homenagear os que foram massacrados nos campos de concentração e extermínio, os que são diariamente humilhados pela fome, os que são agredidos por sonharem com o fim de todos os tipos de exploração, os que são desterrados por governos brutais, os que sofrem discriminação de classe, os que padedecem com o flagelo das guerras.


Diretoria da ASA – Associação Scholem Aleichem de Cultura e Recreação

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