segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MENSAGEM DE ANO NOVO DAS FARC-EP


Apesar da falta de solidariedade e até da neutralidade entre beligerantes em confronto na Colômbia por parte de países vizinhos que tinham a obrigação de as prestar, as FARC-EP dão diariamente provas da sua vitalidade, implantação nas massas e ânimo de continuar a sua heróica luta. Por isso, Alfonso Cano*, Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP, diz na sua mensagem de fim de ano: “…enquanto não encontrarmos, entre todos, os caminhos da reconciliação e da convivência democrática continuaremos a desenvolver intensamente a guerra de guerrilhas para resistir à agressão, a participar dinamicamente nas lutas políticas e sociais e a abrir caminhos ao poder popular e à Nova Colômbia.”

Camaradas do Secretariado do Estado-Maior Central, Estados-Maiores dos blocos e frentes, Comandos Conjuntos, Comandantes de Companhias, Guerrilhas e Esquadras, guerrilheiras e guerrilheiros, membros das milícias bolivarianas, Companheiros do PC3 e Movimento Bolivariano, recebam uma calorosa saudação revolucionária, plena dos meus maiores desejos de um novo ano cheio de êxitos.

Ao despedir-me do ano que agora termina e ao saudar 2011 envio através de todos vós uma mensagem solidária aos milhões de colombianos que nestas terras de intensas chuvas foram vítimas de inundações e derrocadas, como consequência directa da inclemente, desmedida e irracional exploração capitalista das nossas riquezas naturais, do aumento incontrolado das áreas destinadas a grandes ganadeiros que aceleram a erosão do solo pátrio e, também consequência da improvisação, do desnorte e da corrupção que caracterizam a gestão da administração pública na Colômbia.

Saúdo o povo que arca sobre os seus ombros o peso da crise secular da nossa sociedade, provocada pela dependência neocolonial de Washington, pelo terrorismo do Estado, pelas estratégias neoliberais do regime, pela estrutura latifundiária dos nossos campos e pela corrupção que envenena as práticas políticas, paralisa o progresso e acrescenta grilhetas sociais.

Da multiplicidade de aspectos de primeira ordem que marcarão a Colômbia em 2011, chamo uma atenção especial para dois projectos de Lei que fazem a sua tramitação no parlamento, relacionados, um, com a reparação das vítimas da violência que sofre o país desde há 62 anos, e o segundo sobre a propriedade e o usufruto da terra, temas interdependentes um do outro, duas caras da mesma moeda, vertebrais na história recente da Colômbia, muito densos mas essenciais, quando se procura fomentar um futuro de reconciliação e democracia.

Os dois temas necessitam, e por isso devemos lutar, bases seguras e tratamento sérios, se pretendermos contribuir verdadeiramente para a solução do conflito; no primeiro, o ponto de partida deve ser o reconhecimento da responsabilidade dos partidos tradicionais e do Estado pelo começo desta fase de confrontação que violentamente nos abala desde 1948, posteriormente dinamizada durante a guerra fria, com a introdução da doutrina da segurança nacional na Colômbia como concepção de Estado. Um tal reconhecimento desencadearia um vertiginoso processo de reconciliação baseado na verdade.

Quanto ao segundo, sobre uma reforma agrária, é inadiável o regresso das terras usurpadas ao longo de todos estes anos aos seus verdadeiros donos, os colonos e camponeses, bem como a restituição das terras das comunidades indígenas e entregar as que pertencem às comunidades negras; isto é imperioso, mas todo o processo seria um esforço inócuo se não se tiver como desígnio a liquidação do latifúndio que se desenvolve como um cancro.

Segundo um estudo do Instituto Geográfico Agustin Codazzi e da CORPOICA do 2001, as herdades com mais de 500 hectares correspondiam a 0,4% dos proprietários que controlavam mais de 61,2% da superfície agrícola, num processo de progressiva e infame concentração que vem de há anos atrás e que não pára.

Uma lei de terras moderna e com visão estratégica, semeadora de paz, deverá incluir inexoravelmente ajudas económicas e tecnológicas, facilidades de comercialização, vias de comunicação, mas antes de mais e necessariamente, harmonizar nela o social, o territorial, o cultural, o ambiental com todas as suas considerações e implicações.

Estes dois projectos de Lei tem uma condicionante essencial na sua elaboração, análise, discussão, aprovação, e na sua concretização devem participar como protagonistas e decisores os sectores afectados, o povo que sofreu na carne a violência do Estado, do paramilitarismo e do latifúndio.

Seria ilusório pensar que um parlamento como o actual, de tão pesada e reconhecida herança narco-paramilitar, aprove mais à frente uma lei de terras e uma reparação às vítimas que favoreça judicialmente os sectores populares.

Fazendo estes dois aspectos parte da raiz do conflito colombiano é evidente que é necessário um ambiente verdadeiramente democrático e representativo que agarre o boi pelos cornos e projecte uma solução definitiva.

Além destes dois, outros temas exigem em 2011 a prioridade no debate nacional, como o inexorável desmascaramento do regime delinquente, mafioso e sipaio de Álvaro Uribe, o terrorismo do Estado, as concessões mineiras às grandes transnacionais, o aquecimento global, o TLC [Tratado de livre Comércio entre os EUA e a Colômbia, N. do T.], a decrescente qualidade de vida dos trabalhadores colombianos sob a estratégia neoliberal em curso, o desemprego, a instabilidade laboral, a humilhante precaridade dos salários, a corrupção, a reconstrução das habitações, economias e povoações arrasadas pelas chuvas nestes meses, tudo isto, aspectos transversais ao debate eleitoral para autarquias e governadores.

Em todas estas análises, mobilizações e lutas participaremos vigorosamente com a plataforma bolivariana com farol, procurando que a unidade e organização do povo garanta as suas lutas reivindicativas, as potencie, e lhes permita ganhar confiança na sua força independente, ao mesmo tempo que aprende com a sua própria experiência.

Em todas estas jornadas seremos referência ou protagonistas a partir da clandestinidade ou das trincheiras. Não deixaremos um só instante de lutar pela solução política do conflito, pelos princípios e pelas certezas que nos motivam, porque somos revolucionários, porque amamos a paz. As condições para alcançar a justiça social, a democracia, a soberania e o socialismo não nos é imposta pelo Estado, fomos nós próprios quem a escolheu.

Entendemos que o nosso duro quotidiano faz parte do nosso compromisso e concepção de vida, dos nossos ideais políticos, da nossa ética e convicções. Não nos queixamos. Por isso, e enquanto não encontrarmos, entre todos, os caminhos da reconciliação e da convivência democrática continuaremos a desenvolver intensamente a guerra de guerrilhas para resistir à agressão, a participar dinamicamente nas lutas políticas e sociais e a abrir caminhos ao poder popular e à Nova Colômbia.

Não resistimos em vão nos últimos 12 anos à maior ofensiva imperial na América Latina contra uma força revolucionária, fizemo-lo com mais razões, realidades sociopolíticas, ideologia, moral revolucionária e esforços do que com recursos económicos, que é o que dói aos nossos detractores.

Com a bandeira do intercâmbio içada, saúdo a todos os prisioneiros de guerra, aos presos políticos, a todos eles, o meu abraço solidário e combativo, e a esse símbolo da dignidade fariana [das FARC] que é Simón Trinidad, extraditado por um bandido mafioso, e condenado num julgamento político manipulado pelos Estados Unidos; o nosso afecto colectivo para Simón Trinidad, que mostrou ao mundo a solidez da moral que nos cimenta.

Saúdo as camaradas prisioneiras que enfrentam com dignidade e altivez revolucionárias as contínuas provocações e humilhações a que são sujeitas, por não cederem nem á asquerosa chantagem oficial, nem às ofertas rasteiras de algumas ONG’s de volumosos livros de cheques e pensamentos reaccionários. A condição de guerrilheira fariananão tem preço, apenas gera compromissos, orgulho e a imensa satisfação de viver de pé, com a cabeça levantada, transbordando transparência e entrega na luta por uma nova sociedade.

Saúdo os familiares dos nossos presos, tão esquecidos pelos meios de comunicação. Saúdo os guerrilheiros, os milicianos, os combatentes bolivarianos e os lutadores populares que recuperam dos seus ferimentos ou que ficaram mutilados ou inválidos pelo impacto dos sofisticados arsenais de última tecnologia que foram aprovados pelo Direito Internacional Humanitário.

Em 2011 redobraremos as nossas actividades em todos os sentidos com a força que nos dão as nossas convicções, com o cuidado que nos impõe a experiência e o enorme alento de todos os camaradas caídos: de Manuel, Jacobo, Raúl, Iván e o de Jorge Briceño, esse furacão de verdades e compromissos revolucionários, esse titã cheio consequência no seu pensamento e prática como combatente bolivariano.

A todos a saudação e a convocatória das FARC-EP para avançarmos no ano que se inicia na solução política do conflito, na justiça social, na soberania nacional e na plena participação democrática do povo na construção do seu destino.

Êxitos para 2011, um forte abraço e até à vitória.


* Alfonso Cano é o Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP

Este texto foi divulgado pela Agência Bolivariana de Prensa (ABP): www.abpnoticias.com

Tradução de José Paulo Gascão

Fonte: http://www.odiario.info/?p=1935



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